06/09/2016

O oitavo anjo quer amar

Era um facho de luz em meio à escuridão, mas onde já houve treva não há luz que resista, aquele sorriso era a única esperança

Mas na sodomia mais claustrofóbica o prazer chega a ser doloroso de tão intenso
Em cada partícula de poeira se via uma aspiração à morte
A vida agonizante, o triunfo desgraçado chamado felicidade
Trágica confiança, és uma faca que precisa se amolar, não para romper fitas que dão acesso ao meu coração, mas para afundar sua lança na jugular do objeto amado
Eu o odeio, e o ódio é mais forte e definitivo que o angelical amor
Os vermes que comerão meu cadáver fedem como a porra que jorrou em meus brancos lençóis
A minha arcada dentária modelou-se no formato daquele pênis
E a partir daquele despertar pérfido, removi o sangue que coagulou no ânus arrombado do romance mais sarcástico que já vivi
que doa a você, a dor mais perturbadora que nem morfina pode anestesiar.

28/04/2016

Você é sujo (a)

Noite passada acordei molhada, sonhei que o pau duro e grosso da mentira se metia na minha boceta como uma faca

Eu gozei pra caralho, gozei, gemi e ao invés de porra, jorrou sangue
Era salgado e ácido, era escuro e sujo, era pesado

Eu rastejava pelos lençóis da cama, suada, ferida, assada.
Tudo ardia e sangrava, meu sorriso cínico era só escara

Não cuspia naquela pica, só vomitava
Fingia sentir prazer, fingia que gozava

Aquele sonho muito representava
o pus que escorria da minha boceta me completava

E a boca da mentira me chupava
Da sua língua saiam larvas

Seu sorriso me assustava
sua voz me torturava

Acordei excitada
entre o gozo e a risada eu soluçava
chorava
gritava
desesperava

E o sangue do meu lençol não era farsa
Nele eu via todo amor que eu tanto zelava

A mentira tudo guiava e até confortava.

O que arromba a minha boceta, o que corta minha carne, o que me desperta amor
São as mesmas coisas: vida e morte mal aproveitadas.



Cansou

Depois daquela manhã que o sol ardia lá fora e o inverno congelava aqui dentro
Depois daquela hora que a boca dizia te amo e o coração pedia silêncio

Prioridades
Opções

Ao pedir atenção recebeu rejeição

Gratidão? Não
E essa vontade de fugir? Sim

E o espaço outrora preenchido, hoje vaga para caber o que é ruim.
Fim.
Nada
Ninguém
Nunca

O frio, o cinza do dia abriram o espaço feio da minha alma para que eu escrevesse um texto triste.

E nas tardes solitárias, nenhuma companhia acompanha.
Medo!

Alguém vai me abraçar até a dor passar?
Alguém vai dar conselhos bonitos para eu conseguir superar?
Quem vai oferecer amizade sem pedir nada em troca?
Quem vai preferir minha presença ao invés de me preterir da mais cruel forma?

Ninguém!


05/01/2016

"O sofrimento humaniza e a felicidade bestializa"

Lá fora o sol insiste em entrar pela janela, aqui dentro o som do aspirador de pó é como uma britadeira estourando na minha cabeça as dúvidas que insisto em esconder.

Eles foram embora e agora a casa vazia faz o silêncio ser ensurdecedor como quem grita para não ser esquecido.

Troquei as roupas da cama, forrei lençol em lugar de cobertor, para ver se assim, algum calor domina a alma fria e cheia de medos.

O preço da companhia é abandonar-se a si mesmo e acreditar, por desespero ou fraqueza, que a troca compensa.

Insisti nas presenças erradas, nas conversas tóxicas, nos apertos de mão frouxos e nos beijos molhados que davam vontade de secar as bochechas (por nojo).

Minha gastrite dói cada dia mais, mas cada dia mais escolho o álcool ao invés do suco natural, e as frituras cancerígenas ao invés de frutas frescas e suculentas.

Eu escolhi a novela fútil cheia dos padrões de felicidade que só existem por lá ao invés dos livros que desenvolvem meu cérebro e acalentam meu coração.

Eu escolhi a mentira, a traição, o tédio, o sedentarismo, a enfermidade, a inveja, a ganância, o medo, a tuberculose, a sanidade, o ser humano.

Eu escolhi ser um erro, uma falha, um acidente, um tropeço, o vômito que faz o estômago sangrar e a merda que estoura a hemorróida.

Se não fosse a porra suja da traição escorrendo na minha boca, ou as marcas de chupadas provocando discussão entre os casais, ninguém saberia que, para ter paz é preciso viver em guerra e para apreciar um prato saboroso de comida é preciso, antes, sofrer de inanição.







Presente do verbo imperfeito

hoje, mais uma vez, bateram a porta na minha cara
o céu não tem luz
o sol não aquece
o ar não refresca

hoje, mais uma vez, o sonho agoniza
o telefone não toca
a TV não liga
não curtiram minha foto
o celular não vibra

hoje, mais uma vez, senti dor no dente
o almoço não tem sabor
o café estava frio
a toalha da mesa estava suja
ficamos sem luz de manhã

hoje, mais uma vez, fiquei sem resposta
o email não atualiza
a minha mensagem não foi lida
o celular descarregou
o vaso do banheiro está entupido

hoje, mais uma vez, convivi com o silêncio
ninguém me chama para conversar
o cheiro de comida embrulha meu estômago
minha mãe saiu de casa
minha irmã me abandonou
meu pai faleceu

hoje, mais uma vez, acordei desejando um amanhã diferente de ontem, ou que um amanhã não chegasse.

25/05/2015

"Domingos matam mais homens do que bombas"


Um grande guarda chuva aberto sobre a minha cabeça, e em baixo chuva e lágrimas; um sonho sobre um pai, remédios, aulas, sapos mortos e a solidão personificada em mim.

A porta bateu-se, as chaves caíram dos bolsos, o sorriso caiu por terra.
Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhuma palavra de conforto.

O perdão é artigo de luxo, a felicidade é representação utópica.

A noite em claro, uma doença sem cura, a parada cardíaca e nenhum desfibrilador em vista.

O eco do meu choro é música para seus ouvidos.

E essa vontade de gritar? De pedir? De voar?

Seu sorriso naquela foto doeu mais que uma facada.
Seu olhar de ódio matou mais que um tiro no peito.

Os sambas da madrugada me aconselharam, me deram serenidade, mas acordei e o cenário soou byroniano demais.

"quem me dera, ao menos uma vez, ter de volta todo ouro, que entreguei a quem conseguiu me convencer que era prova de amizade...

eu quis o perigo e até chorei sozinho"
NÃO.

E na cabeça martela a lição: "a vida é como uma roda gigante, um dia se está em cima, e no outro..."

mas, no fundo, eu era um lobisomem juvenil.






28/04/2015

Como quem fraqueja para vencer

O prédio mais alto da cidade, o vento frio da noite, o céu estrelado e a solidão.
Horas para pensar em si, para pensar em tudo, chorar todas as lágrimas guardadas, rezar todas as preces contidas, lançar todas as maldições podadas.
Medo de tudo, medo de tanto, medo de todos.
Fracasso, traição, mentira, ingratidão, falsidade, abandono. São dores quase físicas. Dói ter certeza que, não é saudável criar tantas expectativas, cada um sonha aquilo que lhe convém, ama o que lhe convém.

Certezas não existem. Só existe a vida, sem manual de instruções, sem garantias, sem segurança, sem contrato registrado em cartório ou assinatura de algum Deus bem foda prometendo felicidade eterna.

Tem que acordar diariamente para, no fim do dia, voltar a dormir.
Chorar as mágoas para sorrir.
Dizer verdades para mentir.
Ser infeliz até se encontrar, naquele curto momento, inesperado e efêmero, que vem e vai num piscar de olhos, quando você se percebe apoiado na pia do banheiro, rosto manchado de rímel, coração na mão, lágrimas de desespero.

E foi.
Este eterno perde e ganha, cai e levanta, bate e apanha.
Dói e cansa, mas se há uma breve esperança, a gente, por teimosia ou arrogância, acredita que como quando eramos crianças, o machucado, o band aid e o merthiolate, se dói demais, pode doer bem mais. E, vai que de repente, nesta dor, um dia a gente encontra nossa paz?