24/07/2011

As amarras, a ampolha e a ampulheta

Reduziram os nossos sonhos à cifras, e têm cobrado muito caro, como se tivéssemos que pagar impostos para ter o mínimo direito de sonhar.

-Não!

Não venha me falar de assaltos, nem de assassinatos, não diga-me sobre a fome, ou sobre o frio de quem não tem um “lar”, o mundo anda tão complicado..

Eu ando tão sozinha, mesmo rodeada, porque a solidão sempre foi minha amiga favorita, nos damos bem, ela sempre me entende, não me julga, não me cala, ela me ouve em silêncio, e eu entendo o brilho no seu olhar..

E agora, as avenidas revelam dores surpreendidas por outdoors, queria salvar o mundo, queria ser o mundo, mas, as alianças de poderosos já fez-se mais importante que sorrisos ingênuos dos meninos com sacos de cola em mãos.

E eu passo como o resto, cheia de pretensões, pensando no meu medíocre salário, na roupa ideal pra festa do mês, no próximo capítulo da novela das seis.

Eu passo, passo a ser uma ridícula, acorrentada, estamos sempre acorrentados, outrora nos navios negreiros, outrora nas sessões de inquisição, outrora nas favelas sem saneamento básico, agora nos morros deslizantes, nas montanhas de cadáveres fruto do massacre em 92, nas ante-salas de delegacias, nas celas, ou sendo montados, sendo manipulados.

As correntes já se tornaram tatuagem, e não somente eu as uso, você também meu amor, suas compras no shopping, seus posts medíocres no twitter, suas fotos no Facebook, e a nova maquiagem tendência na moda.

Você, eu, nós, todos possuímos nossas fraquezas, e essa ferida aberta me causa dores insuportáveis.

Sinto-me nada, porque permaneço inerte, alterando a economia do USA, ou continuo assistindo programas de caridade na televisão, alguns ainda choram de emoção, eu choro, porque ai revela a fraqueza do ser humano, tantos com pouco, poucos com muito.

E você, aonde vai chegar o seu mundo?

As artimanhas da guerra santa não são ferramentas de guerra quente, o processo de desabitação procede como ditado por documentos históricos, assinados por índios letrados pelos espanhóis.

A igreja permanece catequizando seus interesses capitalistas, e você, e eu, permanecemos ósseo-integrados aos fósseis culturais preconceituosos que garantem o controle de nossas mentes, e vendem números na loteria.

-olhem as vitrines, todos estão a venda, por preços acessíveis.

Canção obsoleta para retorno de quem não foi

As gavetas estão trancadas, como nunca antes estiveram, e me pergunto, como isso pôde acontecer conosco?

Encontrei as chaves por acaso, e ao vasculhar seu interior, revivi memórias e motivos, agora tudo está claro, - Mas passado é passado.

“Se fosse fácil assim.”

Os rabiscos das minhas frustrações, as lentes quebradas dos meus óculos, a ausência do espelho em meu retrovisor e as flores murchas que há tempos não rego.

Deus do céu, o que houve comigo?

Tantas coisas mudaram, eu tanto mudei; Sinto fragilidade, sinto impotência, e sugam meu sangue sem pudor, de forma a ser impossível qualquer reação da minha parte.

Lá fora, notas musicais atrapalham meu raciocínio, aqui dentro, pensamentos confundem minhas escolhas, e tornam dolorosas as decisões.

Se existe alguém que concorde com algumas das chulas palavras que declamo, ou se houver quem não julgue esdrúxula minha opinião, pronuncie-se, por favor.

Sinto tanta falta, falta daquele tempo em que o carro branco e a camisa de força não me perseguiam, sinto-me muito indefesa.

E acordo todas as manhãs compreendendo as dores de Gregor Samsa, como se fossem minhas.

Aguardando essa metamorfose passar de forma indolor, como se fosse possível.

Restam-me cadernos amarelados pelo tempo, e quarto sem mobílias para que eu deslize como o fez, para que eu divida com a solidão os olhares lançados a mim sem astúcia, que revelam o quão criminoso é ser diferente.

Já que tenho convivido com uma série de Parnasianos, e me encontro em Pré modernismo, datilografando um ponto final ao mundo cor de rosa que tanto abomino.

Caros, meus caros asfixiados , lhes entrego o meu vírus inacessível em bandejas, e divido com vos a lápide onde palavras tristes e saudosas revelam: “Não, eu não odeio as pessoas. Só prefiro quando elas não estão por perto.

Revelei meu segredo, e acendi o pavio, agora sim, o mundo valeria a pena!