06/05/2014

Sobre uma partida

...a gente se observa, como quem não sabe se pode querer, e sem dizer uma palavra, a gente se enxerga sem ver, sem perceber que somos o nosso lugar.

Vejo o fundo dos seus olhos, seus medos, dúvidas e incertezas e percebo como você é desprotegido, cheio de ilusões e questionamentos. Você me olha e se pergunta: será que ela é a minha melhor opção?

Você quer experimentar outros sabores, outros amores e outras paixões. Você queria me congelar enquanto você prova outros gostos.

Mas o mundo não pode parar por mero capricho seu. E meus sentimentos vivem aqui dentro, como chama que chega a queimar minha triste alma. Você quer ter certeza que não existe ninguém melhor que eu, e se embriaga nas ilusões dos rótulos, dos batons vermelhos e de esmaltes que sensualizam seus dias. Podem sim existir outros cheiros melhores que o meu, mas nunca haverão beijos mais transcendentais que os nossos.

Você pode viajar o mundo todo, frequentar as festas mais badaladas e os bares mais agitados do planeta terra, de Júpiter, vênus e marte, mas é o meu colo que te consola, são meus dedos que tocam seu espirito com amor e meu olhar que te invade com alento.

Ele chegou, revirou meus dias, embaraçou meus cabelos, me encantou com seus dengos, me conquistou com sua ingenuidade e partiu. Partiu por não estar preparado para ser plenamente feliz, partiu por não suportar ser amado tal qual um Deus, partiu por não suportar a ideia de ser único na vida da mulher que, por ele, enfrentaria as mais perigosas batalhas.

Se eu pudesse lhe dizer tudo que guardo aqui dentro, cada frustração, arrependimento, sonho e esperança. Quisera eu ser um sábio, quisera eu ter minha filosofia por ele apreciada. Lhe diria que o futuro é incerto, mas que ao meu lado sua segurança seria certeza, eu lhe contaria que meu desejo é ser seu desejo e que o desejaria infinitamente, fecharia minhas portas para outros desejos e encheria seus dias de dádiva e prazer. Eu lhe diria que ele há de envelhecer, que seus amigos casarão, morrerão ou dirão adeus quando ele mais necessitado estiver, mas que eu, seria jovem eternamente com a força do meu amor, permaneceria ao seu lado, doce, cheirosa, carinhosa e maliciosa para satisfazer suas necessidades espirituais e mundanas.

Te contaria meus sonhos, e juntos os realizaríamos.

Confessaria que depois de sua aparição, minha maior aspiração é: uma casa pequena, boas energias, flores perfumadas no jardim e nossas crianças brincando no quintal.

Mas se ele partiu, devo ficar, manter-me presente em mim mesma.

Quando ele chegar aos seus 80 anos, há de se recordar, que eu, só queria ter minha cadeira de balanço ao lado da sua cadeira de balanço, nossos dedos entrelaçados e beijar sua testa, ser sua paz num dia de domingo. Como neste domingo, onde me alojo nesta solidão para não abandonar a mim mesma, embalada nas ilusões de outros esconderijos, só quero me guardar dentro do único por quem sinto amor.

(no final de 2013)

Sobre um assalariado

Em casas de colonial, os senhores de engenho contemporâneos escravizam seus sonhos e chicoteiam sua esperança com cordas psicológicas. Eles não têm tinta na caneta pena para assinar lei áurea, não suportam mais viver de escambo e autoflagelar a liberdade.

São de todas as cores, feridas e senzalas sem forma

São dos dois gêneros. Na escravidão do século XXI o conviver em sociedade é a maior prisão existente. Os salários são as correntes. Liberdade e prisão separadas por uma fina linha imaginária.

Eu me visualizo no espelho e vejo outras mulheres, as que a mídia vende.
Eu mudo de canal e vejo um outro monstro a engolir meus sonhos, sonhos? nem Aurélio sabe significar.

E nos camburões do dia-a-dia, me transportam para a senzala, enquanto meus olhos lacrimejam de saudade da minha mãe Africa que nunca teve liberdade para me amamentar.

Vou rasgar essas vestes e cortar meus pulsos, quem sabe noutra vida eu nasça no berçário que reside minha raça, minha paz, minha verdadeira alma.

Sobre o ser

O mundo vai seguindo enquanto eu parei.

Paralisada em minhas dúvidas, me perguntei se tenho razão ou emoção para assim ser.

Eles cobram notas, autógrafos, portfólios, prêmios, cartazes, gritos e molotov.

Eu alimento um blog à base de migalhas.

Eu me alimento de frustrações, sei que este mundo enfermo não oferece ar puro nem espaço para ser sonhador.

E os cadernos amarelados e seus textos? -Não fazem mais sentido em meus dias.

Nomes famosos, discos clássicos e eu coro sempre que confundo um sobrenome ou determinado álbum que todos conhecem.

Os adjetivos têm significado ambíguo, quase cacofônico em meu discurso falho.

Me graduei em uma universidade pública com mensalidade inferior a um salário mínimo, não sei escrever sobre nada que não seja eu, não tenho ritmo para cantar, não sei desenhar nada além de uma nuvem e o mundo acha pouco, é pouco. 

Não me interesso por arte, nem cinema, nem teatro, nem música.
Gosto de brigadeiros, barba por fazer, rimas fracas, sexo e cores.

Eu nasci na linha da pobreza do conhecimento, meu intelecto limitado me exclui de qualquer grupo seleto, eu não sei me enturmar, nem sorrir, nem tentar me aproximar.

Meu preconceito é o fiasco da minha não inteligencia, gente interessante me causa ojeriza.

"Como me tornei estúpido, ou não?"

Fernando, Alvaro, Alvares, Edgar, Carlos, Augusto, Charles, etc etc.

Nomes toscos da humanidade, escreveram asneiras que de nada serviram, e nas universidades lecionam essas bostas e fazem aqueles que não veem graça se sentirem lixos.

E o curioso é que, todos estes nomes só recebem reconhecimento quando, finalmente, têm seus nomes escritos em lápides de concreto.

Mundo ridículo, livros e mais livros. E a alma implora por silêncio na base do grito.