24/07/2011

Canção obsoleta para retorno de quem não foi

As gavetas estão trancadas, como nunca antes estiveram, e me pergunto, como isso pôde acontecer conosco?

Encontrei as chaves por acaso, e ao vasculhar seu interior, revivi memórias e motivos, agora tudo está claro, - Mas passado é passado.

“Se fosse fácil assim.”

Os rabiscos das minhas frustrações, as lentes quebradas dos meus óculos, a ausência do espelho em meu retrovisor e as flores murchas que há tempos não rego.

Deus do céu, o que houve comigo?

Tantas coisas mudaram, eu tanto mudei; Sinto fragilidade, sinto impotência, e sugam meu sangue sem pudor, de forma a ser impossível qualquer reação da minha parte.

Lá fora, notas musicais atrapalham meu raciocínio, aqui dentro, pensamentos confundem minhas escolhas, e tornam dolorosas as decisões.

Se existe alguém que concorde com algumas das chulas palavras que declamo, ou se houver quem não julgue esdrúxula minha opinião, pronuncie-se, por favor.

Sinto tanta falta, falta daquele tempo em que o carro branco e a camisa de força não me perseguiam, sinto-me muito indefesa.

E acordo todas as manhãs compreendendo as dores de Gregor Samsa, como se fossem minhas.

Aguardando essa metamorfose passar de forma indolor, como se fosse possível.

Restam-me cadernos amarelados pelo tempo, e quarto sem mobílias para que eu deslize como o fez, para que eu divida com a solidão os olhares lançados a mim sem astúcia, que revelam o quão criminoso é ser diferente.

Já que tenho convivido com uma série de Parnasianos, e me encontro em Pré modernismo, datilografando um ponto final ao mundo cor de rosa que tanto abomino.

Caros, meus caros asfixiados , lhes entrego o meu vírus inacessível em bandejas, e divido com vos a lápide onde palavras tristes e saudosas revelam: “Não, eu não odeio as pessoas. Só prefiro quando elas não estão por perto.

Revelei meu segredo, e acendi o pavio, agora sim, o mundo valeria a pena!

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