25/05/2015

"Domingos matam mais homens do que bombas"


Um grande guarda chuva aberto sobre a minha cabeça, e em baixo chuva e lágrimas; um sonho sobre um pai, remédios, aulas, sapos mortos e a solidão personificada em mim.

A porta bateu-se, as chaves caíram dos bolsos, o sorriso caiu por terra.
Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhuma palavra de conforto.

O perdão é artigo de luxo, a felicidade é representação utópica.

A noite em claro, uma doença sem cura, a parada cardíaca e nenhum desfibrilador em vista.

O eco do meu choro é música para seus ouvidos.

E essa vontade de gritar? De pedir? De voar?

Seu sorriso naquela foto doeu mais que uma facada.
Seu olhar de ódio matou mais que um tiro no peito.

Os sambas da madrugada me aconselharam, me deram serenidade, mas acordei e o cenário soou byroniano demais.

"quem me dera, ao menos uma vez, ter de volta todo ouro, que entreguei a quem conseguiu me convencer que era prova de amizade...

eu quis o perigo e até chorei sozinho"
NÃO.

E na cabeça martela a lição: "a vida é como uma roda gigante, um dia se está em cima, e no outro..."

mas, no fundo, eu era um lobisomem juvenil.






28/04/2015

Como quem fraqueja para vencer

O prédio mais alto da cidade, o vento frio da noite, o céu estrelado e a solidão.
Horas para pensar em si, para pensar em tudo, chorar todas as lágrimas guardadas, rezar todas as preces contidas, lançar todas as maldições podadas.
Medo de tudo, medo de tanto, medo de todos.
Fracasso, traição, mentira, ingratidão, falsidade, abandono. São dores quase físicas. Dói ter certeza que, não é saudável criar tantas expectativas, cada um sonha aquilo que lhe convém, ama o que lhe convém.

Certezas não existem. Só existe a vida, sem manual de instruções, sem garantias, sem segurança, sem contrato registrado em cartório ou assinatura de algum Deus bem foda prometendo felicidade eterna.

Tem que acordar diariamente para, no fim do dia, voltar a dormir.
Chorar as mágoas para sorrir.
Dizer verdades para mentir.
Ser infeliz até se encontrar, naquele curto momento, inesperado e efêmero, que vem e vai num piscar de olhos, quando você se percebe apoiado na pia do banheiro, rosto manchado de rímel, coração na mão, lágrimas de desespero.

E foi.
Este eterno perde e ganha, cai e levanta, bate e apanha.
Dói e cansa, mas se há uma breve esperança, a gente, por teimosia ou arrogância, acredita que como quando eramos crianças, o machucado, o band aid e o merthiolate, se dói demais, pode doer bem mais. E, vai que de repente, nesta dor, um dia a gente encontra nossa paz?

18/03/2015

Dê a alguém

Aquela janela é puro pó, e sua transparência mal mostra o exterior

A garota olha e não vê, não vê sol, não vê céu, nada vê
só vê pó

e o pó adquire vida, e a vida do pó conta histórias
ela vê através da água de seus olhos o pó tomar forma

abandono, tudo encrostado.

só vê o reboco por terminar refletir o que sua vida agora é

uma casa abandonada, tinta descascando na parede, goteiras, mofo e mau cheiro.

e como flores jogadas no lixo, seu perfume tem cheiro de flores mortas, vai ver por isto não seja regada.

Para quê regar flor que já morreu?
Morreu?

Tudo morre, mas pior que a morte consumada é a vida mal vivida.
Eu não morri. Eu não sou flor não regada. Eu não sou pó.

Apenas narro.