05/01/2016

"O sofrimento humaniza e a felicidade bestializa"

Lá fora o sol insiste em entrar pela janela, aqui dentro o som do aspirador de pó é como uma britadeira estourando na minha cabeça as dúvidas que insisto em esconder.

Eles foram embora e agora a casa vazia faz o silêncio ser ensurdecedor como quem grita para não ser esquecido.

Troquei as roupas da cama, forrei lençol em lugar de cobertor, para ver se assim, algum calor domina a alma fria e cheia de medos.

O preço da companhia é abandonar-se a si mesmo e acreditar, por desespero ou fraqueza, que a troca compensa.

Insisti nas presenças erradas, nas conversas tóxicas, nos apertos de mão frouxos e nos beijos molhados que davam vontade de secar as bochechas (por nojo).

Minha gastrite dói cada dia mais, mas cada dia mais escolho o álcool ao invés do suco natural, e as frituras cancerígenas ao invés de frutas frescas e suculentas.

Eu escolhi a novela fútil cheia dos padrões de felicidade que só existem por lá ao invés dos livros que desenvolvem meu cérebro e acalentam meu coração.

Eu escolhi a mentira, a traição, o tédio, o sedentarismo, a enfermidade, a inveja, a ganância, o medo, a tuberculose, a sanidade, o ser humano.

Eu escolhi ser um erro, uma falha, um acidente, um tropeço, o vômito que faz o estômago sangrar e a merda que estoura a hemorróida.

Se não fosse a porra suja da traição escorrendo na minha boca, ou as marcas de chupadas provocando discussão entre os casais, ninguém saberia que, para ter paz é preciso viver em guerra e para apreciar um prato saboroso de comida é preciso, antes, sofrer de inanição.







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