É feriado em sua cidade, mas de onde ele é afinal de contas? de lugar nenhum. É uma data qualquer, cheia de cifras, sorrisos amarelos, saltos altos tocando chãos assustados - pra quê se faz tanto barulho?- a vaidade quer mostrar a que veio. E foi, como quem corre para não precisar se despedir.
Todos os dias milhares se vão, com as fumaças dos carros, e o fedor dos perfumes importados. Madames mancham seus dentes com batom vermelho, e sua alma, cada dia mais podre, mas suas contas bancárias deixam qualquer sujeira límpida. Se foi, mais uma vez partiu. Dentre os documentos, pastas amareladas, mofa uma alma, rasteja entre a vida que teimou em não existir. Lá fora chove, garoa, queima, sangra. Lá fora passa o tempo, e aqui dentro, ele morre lentamente, mesmo com seu coração batendo, mesmo com ar em seus pulmões e sangue em suas veias, aqui dentro não há desfibrilador, não há Gardenal, não há erva medicinal capaz de protegê-lo de tamanho mal; ele tenta se salvar enquanto cava própria cova em seu quintal. No fim das contas, ele e ela e nós, somos nosso único e próprio mal.