11/12/2012

Vermelho

Ele, quando sente prazer, fecha os olhos; ela sorri; eles sussurram baixinho; elas arranham; ele morde. ela grita. E no vai-e-vem do parquinho de diversão para as crianças crescidas, há um misto de bem e mal, de paz e guerra, de querer e não querer. Era para ser um conto, mas tem que ficar nas entrelinhas. O colchão arrastado involuntariamente pelos dois - psiu, eles não podem ouvir - a música invadia o ambiente, suor, perfume, cabelo, pele, marcas, suspiros. Sentimento? nenhum, óbvio.
O som das molas do colchão e dos gemidos que ela deixava escapar, arrepiada, apaixonada - pelo prazer, é claro - porque ele, não podia ser sinal de nenhuma paixão, apego nem pensar, seria quase uma masmorra, e foi.
Em fração de segundos tudo explodia lá dentro, no fundo do calabouço da sensibilidade massageada pelo vibrador naturalmente real; tapas, apertões, mordidas, línguas e adjacências. Foda-se, e fodeu mesmo.
Aquele olhar buscando uma profundidade que nunca existiu, até parece ter encontrado o horizonte, porque não se perdeu. O sorriso que teimava em vazar no clímax da epopeia quase invadiu o espaço que ela mantinha à sete chaves. Mas não, tudo continuou bem trancado, nem fresta de janela aberta havia.
Passou, passaram-se...
O que tinha tudo para ser a maior aventura de suas vidas teve ponto final, ou talvez ponto e virgula, ou não?
Não haverão novas aventuras, e por mais que ambos repitam tudo com outros estranhos, tão estranhos quanto foram e ainda são um para o outro, não, nunca será igual, com mesma intensidade, mesmo prazer, mesma ilegalidade. Que seja, orgasmos múltiplos, e vestígios de esperma invadiram o cerebelo na região exata onde permanecem as lembranças.
O barulho irritante do ventilador ecoa em sua mente, remetendo a memória dos dias sim e não, do almoço que não foi saboreado, da fruta natural comida lentamente e de relacionamentos que chegaram ao fim, quando na verdade, nunca existiram. O prazer é um ataque cardíaco que não mata, mas adoece pra curar quem nunca esteve enfermo.

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