19/12/2012

Minha mente carcereira

Ele tem se sentido tão só, perdido, isolado, desesperado. Se levanta de sua cama todos os dias, com seu olhar cheio de olheiras e um gosto amargo na boca. Ele espreguiça um cansaço que nunca existiu, boceja o sono que nunca confortou, ajoelha e reza, chora, implora; implora para que, realmente, existe um Deus, um diabo ou qualquer porra que venha para salva-lo. Tudo em vão, ninguém o salvará, ele está só, hoje, ontem e sempre. Nasceu para se foder mesmo e agora resta vegetar uma vidinha esquizofrênica, simulando uma felicidade instantânea em seu lapso de existência, cheio de vazio. Afogando-se em mágoas e amedrontado pelo monstro que existe dentro de si mesmo.
É feriado em sua cidade, mas de onde ele é afinal de contas? de lugar nenhum. É uma data qualquer, cheia de cifras, sorrisos amarelos, saltos altos tocando chãos assustados - pra quê se faz tanto barulho?- a vaidade quer mostrar a que veio. E foi, como quem corre para não precisar se despedir.
Todos os dias milhares se vão, com as fumaças dos carros, e o fedor dos perfumes importados. Madames mancham seus dentes com batom vermelho, e sua alma, cada dia mais podre, mas suas contas bancárias deixam qualquer sujeira límpida. Se foi, mais uma vez partiu. Dentre os documentos, pastas amareladas, mofa uma alma, rasteja entre a vida que teimou em não existir. Lá fora chove, garoa, queima, sangra. Lá fora passa o tempo, e aqui dentro, ele morre lentamente, mesmo com seu coração batendo, mesmo com ar em seus pulmões e sangue em suas veias, aqui dentro não há desfibrilador, não há Gardenal, não há erva medicinal capaz de protegê-lo de tamanho mal; ele tenta se salvar enquanto cava própria cova em seu quintal. No fim das contas, ele e ela e nós, somos nosso único e próprio mal.

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