O coração apertado, a respiração pesada e a escuridão iluminando os dias de faz de conta que sou feliz. Acordar durante a madrugada pensando nas frustrações de ter nascido e pegar no sono por causa do peso que estes pensamentos trazem à cabeça.
Caminhar nas estações de trem observando sorrisos vazios e olhares atormentados faz pensar em quão desperdiçante é a vida.
Viver é perder tempo, é conduzir a alma a um rumo vago e cheio de perdas. Vive-se só para isto, perder e nada mais.
Vive-se acomodado com a falsa promessa de que um dia se será plenamente feliz.
Lasciate Ogni Speranza.
Os outros parecem felizes, mas não o são, fingem o tempo todo, sorriem por mera convenção social. Todos carregam em si a penumbra da existência. Essa doença incurável que asfixia os dias até carregar-nos no braço forte da morte para viver intensamente a paz eterna.
Viver? - é uma dádiva fatal (já disse o poeta).
Mais saudável meter uma corda no pescoço e chutar o banco abaixo dos pés.
Mais vitorioso engolir doses exageradas de comprimidos letais.
Mais digno se fechar num comodo e inalar gás.
Mais justo é cortar os pulsos na vertical.
Passamos nesta vida por uma correnteza de tristeza, perdemos entes queridos, perdemos amores, perdemos esperança, dinheiro, saúde, amigos... e por fim, tragicamente, nos perdemos de nós mesmos, pois para sermos reconhecidos devemos nos adaptar à essa sociedade nojenta e agonizante.
Para viver plenamente é preciso se deixar morrer diariamente.
E os outros?
estes que balbuciam "eu te amo" em nosso encontro, não passam de mera platéia, expectadores de nossa morte, anseiam o dia em que nos verá rodeados de flores e velas em um caixão de falsa madeira, quando, finalmente, poderão, por remorso entregar-nos as flores que quando ainda vivos nunca nos ofereceram.
Neste dia, chorarão por não ter nos enchido de preces, lágrimas e pedidos de "fica" ou "volta, por favor", porque a perda eterna desperta beleza, poesia e mistério ao amor enterrado em vida.
Para amar eternamente é necessário observar o objeto amado entre quatro velas, ou visitar uma lápide abandonada até por urubus num vazio e cinza cemitério.
Se ainda tem os que ama por perto, dê lhes flores, chocolates, doces palavras e amor, o amanhã é o adeus, o fim vertiginoso da inexistência chacoalhando pensamentos egoístas que após o partir eterno serão obrigados a amar a fraude que foi a vida.
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